Começo de ano, dando seqüência a série “artigos do mês”, vamos ver um artigo sobre ultra-som (US).
Saiu agora em janeiro na “Rheumatology” um artigo sobre o uso do US associado a fisioterapia convencional em pacientes com ombro doloroso.
Como o jornal não é de distribuição gratuita, segue apenas o resumo.
http://rheumatology.oxfordjournals.org/cgi/content/abstract/kel423v1
Quem tiver acesso ao texto completo vale a pena dar uma lida com calma.
Na introdução os autores mais do que justificaram o porquê de ter feito a pesquisa.
Eles citam uma revisão sistemática publicada em 1997 no BMJ, que está disponível na internet:
http://www.bmj.com/cgi/content/full/315/7099/25
E nessa revisão os autores concluem que o US não é efetivo no manejo de pacientes com dor no ombro. E ressaltam que os artigos são pobres em termos metodológicos.
E isso criou uma “revolta” na comunidade de fisioterapeutas do reino unido que mesmo com essa revisão, alguns mantiveram o uso do US. E, os que apoiaram o US, fizeram um consenso de uso do equipamento, justificando que existe uma falta de evidência e não evidência de que o US não funcione. Deu pra entender?
Ta aqui a carta dos descontentes.
http://www.bmj.com/cgi/content/full/316/7130/555
Diante disso, os autores resolveram pesquisar. E montaram um ensaio clínico controlado, placebo, duplo-cego, pragmático e multicêntrico.
Essas duas últimas palavrinhas falam muito a favor da validade externa de um estudo, ou seja, sobre a capacidade de aplicar (ou não) os resultados da pesquisas em nossa prática diária.
Para saber mais sobre artigos pragmáticos, leiam aqui:
http://www.ftcm.org.uk/Pragmatic%20trials%20CTM%202004%2012%20136-40.pdf
Voltando ao artigo. Os autores se preocuparam em seguir à risca as normas do “CONSORT”, lembram?
http://www.consort-statement.org/Statement/revisedstatement.htm
Descreveram todo o processo de randomização, definiram muito bem os grupos pesquisados. Ou seja, fisioterapia convencional (terapia manual, exercícios domiciliares e orientações) associado ao US, sendo quem em um grupo o US estava ativo e em outro era um US placebo.
O desfecho principal foi o uso de um questionário chamado “Shoulder Disability Questionnarie”.
As medidas foram feitas antes do início do estudo, após duas semanas, seis semanas e finalmente seis meses depois (Follow Up).
Fizeram o cálculo do tamanho da amostra e a análise estatística foi baseada na análise de intenção de tratamento. Agente vai discutir sobre isso mais pra frente.
Resultados: O estudo não demonstrou efeito benéfico adicional com o uso do US no tratamento fisioterapêutico de paciente com ombro doloroso unilateral.
Não houve diferenças estatísticas entre os grupos, ou seja, deixar ligado ou desligar o US não faz diferença.
Quanto a vocês eu não sei, mas pra mim já está suficiente.
Grande abraço